O cantor MARCOS foi o brasileiro selecionado para semifinal de concurso asiático.
De 8 a 17 de outubro deste ano de 2022 acontecerá na Coreia do Sul a semifinal e final do ‘1st Gwanju Buskers World Cup’ do ‘19º Gwangju Memories of Chungjang Festival’.
A competição contará com músicos de vários países e o artista MARCOS, paulistano radicado em Pernambuco, é o único brasileiro classificado para representar o Brasil nessa primeira edição.
O evento faz parte da 19ª edição do Festival que enaltece a memória de luta da cidade de Gwangju, na Coreia do Sul, onde ocorreu em maio de 1980 uma insurreição popular em prol da democracia e contra a ditadura de Chun Doo-hwan. O massacre de Gwangju ficou conhecido como Revolta de Gwangju ou Movimento Democrático de Gwangju.
O Festival representativo de cultura e turismo está se tornando um festival mundial. Ruas decoradas, desfiles com carros alegóricos, performances de rua, experiências gastronômicas e diversos outros atrativos que compõem o festival. O ‘1st Gwanju Buskers World Cup’ contou com mais de 5 mil inscritos que se submeteram as duas primeiras fases do concurso enviando vídeos online de suas performances musicais em espaços públicos. Agora restam 121 candidatos ao prêmio e MARCOS é o único brasileiro nessa lista.
A semifinal e a grande final acontecem de forma presencial e o Brasil foi selecionado com o trabalho autoral do cantor MARCOS que é acompanhado do musicista Breno Lira no violão de 12 cordas.
A organização do evento providenciará as passagens para os artistas selecionados, mas não cobrirá a estadia dos músicos que, por sua vez, não dispõem desse aporte para se manterem em solo Coreano durante os dias da realização do evento.
A Secretaria de Cultura de Pernambuco foi contatada na esperança que o Estado possa apoiar financeiramente os custos de hospedagem e alimentação, mas até o momento ninguém do governo se posicionou sobre o assunto.
Tivemos a oportunidade de conversar com MARCOS para conhecer um pouco mais sobre seu trabalho e saber como está sendo essa montanha russa de sentimentos, uma vez que a falta de apoio pode inviabilizar sua participação nas etapas finais do concurso.
Confere agora essa conversa com a Cultura Iminente.
Entrevista com MARCOS
Cultura Iminente: Marcos, antes de qualquer coisa nos conta um pouco sobre você, pois até onde sabemos, além de música, você já fez muita ‘arte na vida’! Nos fala um pouquinho disso e, claro, quando e como você começou essa trajetória com a música. Como foi esse percurso até aqui?
MARCOS: A maior parte do meu convívio com a arte vem das artes visuais! Eu comecei com fotografia no começo da década de 1990, depois eu comecei, eu fui para as artes plásticas que hoje se chama de artes visuais, donde eu fiz também concomitantemente a carreira artística, eu fiz minha graduação e mestrado em artes visuais e produzi muita coisa, investi muito nisso até o ano de 2011, acredito. Ainda contenho aí um trabalho ainda em construção com fotografia, das artes visuais é a linguagem que eu tenho mais proximidade hoje, ainda tenho prática. E também tive algumas experiências com cinema, em 2015, 2016 e 2018... e já um pouco lá trás também com a vídeo arte... 2005, 2004... ou seja, eu venho da imagem! Porque eu só comecei a compor em 2014 e comecei a compor em inglês. E só consegui realmente começar a compor em português durante a pandemia e foi onde eu consegui realmente achar o meu espaço dentro do texto, sabe? Achar a tonicidade que eu queria, achar o trato com a palavra que eu queria! E isso veio durante a pandemia que foi uma época que eu compus muitas músicas. E a minha escrita, ela tem uma coisa, ela tem uma estrutura muito surrealistas, ela não tem uma estrutura linear. Não é uma estrutura, mas ela tem uma apresentação muito surrealista. Meus versos eles não são lineares, eles muitas vezes são espiralados e elípticos... e eles contemplam muitas imagens, muitas imagens... na realidade em minhas composições é como se eu estivesse legendando imagens.
Cultura Iminente: E sobre esse trabalho que está lhe rendendo uma semifinal num concurso do outro lado do mundo, com quantas músicas você está participando e qual é o formato de sua apresentação?
MARCOS: Bom, há mais ou menos uns cinco meses eu venho desenvolvendo um trabalho com Breno que é a gente montar, aos poucos, a gente ir formatando as músicas pra uma apresentação acústica, voz e violão. E a gente começou a ensaiar e começou a gravar uns vídeos em área externa também e foi nesse meio termo que apareceu esse concurso que exigia que a gente mandasse gravações ao vivo em áreas externas e eu achei muito interessante que foi uma amiga minha que me mandou, uma pessoa que tem uma intimidade muito grande com a cultura asiática, principalmente com a cultura coreana. E ela como sabia que eu tinha um trabalho que se encaixava muito bem nisso assim, que era um trabalho que... ou seja, não que eu criei um trabalho para aquilo, mas aquele trabalho me permitia, me convidava e sedia espaço pra que eu pudesse concorrer. Então foi assim, a gente mandou uma música e passou pela primeira etapa, que essa primeira etapa foi enviar o vídeo online... a gente passou e depois teve uma segunda etapa e a gente mandou outro vídeo, outra gravação, poderia ter mandado a mesma música, mas eu fiz questão de mandar outra música e a gente passou e, passando a gente está aí nas semifinais. Vão ser quatro apresentações, contando com a final, se a gente chegar lá. Então são três semifinais e uma final. E eu pretendo em todas essas quatro apresentações, caso a gente passe, apresentar com trabalho autoral, entendeu? Concorrer com trabalho autoral, com minhas músicas!
Cultura Iminente: Embora seja a primeira vez que é realizado, o 1st Gwanju Buskers World Cup faz parte de um Festival que já está em sua 19ª edição, sendo um evento que tem um simbolismo muito forte pelo fato histórico já mencionado aqui. Isso conta de alguma forma especial para você ou o fato de ter que se concentrar para uma disputa internacional de música não dá brecha para pensar nessa questão que permeia a existência do Festival?
MARCOS: Eu confesso que estou mais focado na própria questão do festival enquanto nossa apresentação. A nossa participação lá! Também estou tentando, juntamente com amigos e com parceiros assim que são imprescindíveis em todos esses meus trabalhos, como a própria Cultura Iminente e outros poucos, buscando apoio para essa nossa ida, porque só uma parte dos custos é subsidiado pelo Festival, outra parte não! E a gente está buscando como resolver essa questão! E outra questão é também não preterir a nossa apresentação lá, que isso é o que é mais importante, entendeu? O importante é a gente ir tranquilo, ir bem, pra poder está bem no dia de se apresentar. Porque se não, se isso não acontecer da forma mais tranquila e serena, não vale a pena todo esse esforço da parte da gente, das pessoas que estão apoiando. Então é uma responsabilidade muito grande, por ser um Festival internacional que já é um festival histórico por ser a sua primeira edição! Toda primeira edição, independente se ela é grande ou pequena, ela é a primeira edição e ela já é histórica por isso, por esse marco fundamental! E a gente estar participando disso é de uma alegria muito grande, pois nós somos os únicos brasileiros nessa competição, isso deixa a gente muito feliz, por outro lado também isso gera muita responsabilidade, é diretamente proporcional a carga de responsabilidade que a gente está carregando. Então, eu estou feliz, mas estou atento também! Estamos atentos em fazer, em dar o melhor que a gente tem!
Cultura Iminente: Como foi receber a notícia que você estava selecionado para a semifinal? E agora como está sendo vivenciar essa incerteza por conta da falta de recurso que garanta a sua estadia e a de Breno Lira para que possam participar de fato dessa fase do concurso?
MARCOS: Ah, receber a notícia é uma coisa única! Não tem como explicar! Você fica sem chão na hora! E aí você vai passando as etapas e vai passando... cada etapa é uma final, na realidade! Cada etapa é uma final! Quando você entra numa competição de etapas, que é feita assim, com esse calendário de etapas, cada etapa é uma final! Você tem que encarar como uma final! Você tem que dá o gás que você dá numa final! Então é uma alegria muito grande! Muito grande! E está indo pra semifinal lá, pra quatro apresentações, caso a gente chegue na final, isso é uma coisa única e ao mesmo tempo é uma coisa que gera muita responsabilidade porque a gente não está indo só com a nossa arte, né? É muito gratificante a gente está indo representar o nosso país e com a nossa arte! A gente não vai cantar cover! São músicas autorais! Só que ao mesmo tempo isso gera uma responsabilidade muito grande porque eu preciso estar levando o nome de um país nas costas! Você está carregando um país! Você está carregando uma cultura! Você está carregando pessoas que acreditam em você! E isso é muita responsabilidade! Então você tem que buscar essa equação entre a responsabilidade e o prazer de fazer a arte, sabe? Pra não perder o chão, não entrar no delírio, não ser capturado pelo narcisismo... É todo um trabalho mesmo de espírito, um trabalho de psique mesmo, pra você manter o equilíbrio, que é isso que vai fazer o diferencial! E fazer arte é um desafio, buscar apoio pra ida, pra esse Festival, porque eles não cobrem todos os custos e é caro, porque nossa moeda tá muito desvalorizada, não é fácil! Mas a gente conta com pessoas queridas, pessoas que acreditam no trabalho da gente, porque também se não acreditassem não estavam do lado da gente. É acreditar e enfrentar as dificuldades que todo artista enfrenta desde sempre, porque fazer arte não é fácil! Não é fácil porque você busca um caminho que constantemente você tem que trabalhar as expectativas, porque se você gera muita expectativa você pode estar evocando uma enxurrada de frustrações. Então é manter o equilíbrio e enfrentar o que tiver que enfrentar, porque arte é isso, arte é contra-discurso! Arte vai na contramão de tudo, mas é ela que faz com que a vida se sustente! Não existe vida sem arte! Não existe o ser humano sem estética! O ser humano sem estética é um ser manco! Isso é um fato! E é por isso que eu faço arte há tanto tempo e não vou deixar de fazer!
Cultura Iminente: Para além desse concurso, quais são seus planos na música? O que podemos esperar desse trabalho que mesmo ainda no início já rompeu fronteiras e já o lança em grandes desafios?
MARCOS: Eu sempre me entrego integralmente a tudo que eu faço, mas eu sinto que a música é a linguagem artística que mais me preenche; eu digo, plenamente! Então eu vou continuar compondo, vou continuar nas minhas produções solitárias porque a maneira como eu componho é como um escritor que está escrevendo seu romance... A cena da escrita de um romance e a cena da escrita como eu componho também, é uma cena muito solitária! E vai ser assim sempre e é assim que eu vou continuar fazendo! O meu objetivo é um só, é mostrar minhas músicas e se aparecerem espaços pra que elas se apresentem, eu vou explorar esses espaços! Mas sempre com muito equilíbrio, sempre acreditando que pode dar em algum lugar ou pode dar em lugar nenhum. Mas o mais importante é que eu já estou no meu lugar, já estou produzindo e só de escrever e solitariamente de vez em quando tocar meu violão básico, minhas canções, já me preenche, já cria um respiro e já garante minha sanidade!
Cultura Iminente: Marcos, sabemos que você está feliz por ver seu trabalho sendo reconhecido através de um concurso internacional, mas por outro lado você acaba vivendo uma expectativa enorme por não ter até o momento o aporte financeiro necessário para participar da semifinal do 1st Gwanju Buskers World Cup. O que você pode dizer em defesa desse teu trabalho que justifique a importância desse tão esperado apoio que garanta que o Brasil e a nossa música possam estar sendo representados através de você lá fora, na terra do Hallyu (ou Onda Coreana, como também é chamado o fenômeno de difusão e exportação da cultura popular sul-coreana)?
MARCOS: Ah, em defesa do que a gente está fazendo, primeiro que a gente está lá por algum motivo, a gente não entrou porque a porta estava aberta, a gente passou por etapas pra estar lá! Então se a gente passou por essas etapas é porque tem algo aí! É porque enxergaram nas minhas músicas e enxergaram no violão do Breno algo que precisa estar lá nessas semifinais, ao vivo! Que as pessoas daqui que é esse país, essa cultura que a gente está indo representar, procurem se informar mais, procurem escutar as músicas, procurem ler as letras e criar um pouco mais de intimidade com esse trabalho que está sendo construído com tanta dedicação e com tanto carinho pela arte. E com mais que tudo, com muita verdade, com muita verdade... É até curioso dizer ‘muita verdade’ porque na realidade a verdade não tem quantitativo né, ela é verdade! (risos) Bom, o trabalho está sendo construído com verdade! E que é um trabalho autoral, a gente vai defender uma música autoral lá, a gente não vai defender cover! Então eu acho que isso torna esse trabalho ainda mais precioso, sabe, nesse sentido. Esse evento todo pra gente se torna mais precioso porque a gente está defendendo a criação na sua plenitude, a gente está defendendo um trabalho que é construído de um todo, desde a letra até um violão, até o canto... é tudo autoral! Então isso não é qualquer coisa! Então que as pessoas cheguem junto, que as pessoas procurem dar um tempinho, para um tempinho e vem escutar a gente. Vem entender porque que a gente está indo para Coreia. É isso, não tem mais o que eu diga, eu acho que a arte, ela é que tem que se defender, sabe? Deixa ela se defender. Mas que as pessoas cheguem junto pra permitir que ela se defenda. É isso!
Segue abaixo o link do vídeo que levou Marcos e Breno para a semifinal do ‘1st Gwanju Buskers World Cup’:
Comentários